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Reino da Prussia!

Prazer. Sou, de nome, Fritz. Por natureza, um flâneur – e se te falta essa palavra francesa no dicionário, adianto: sou um caminhante. Passo mais tempo fora do meu Reino do que dentro dele, motivo pelo qual narro agora esta história. Tudo começou na minha última andança, quando peguei um caminho pouco visitado e tropecei em uma garrafa de cerveja cuja a marca ainda não conhecia. Como nós, Jipius, dividimos o pão, a cevada e o riso, levei-a para o meu Reino.

Mas deveria era ter bebido mais sozinho! Aquela cerveja, como fui descobrir mais tarde, era especial. A suspeita começou quando colocamos a bebida em uma taça e senti os meus olhos enrugarem a testa, curiosos pelo que haveria naquelas profundezas. A cerveja não tinha a cor de palha que eu estava acostumado. Ela era mais dourada e bonita. Além disso, era mais encorpada do que as Pilsens que eu conhecia. E o seu sabor maltado e o seu aroma floral me deixaram com vontade de
conversar sobre viagens e aventuras, além de ter agradado os Jipius mais exigentes e os mais tradicionais. A infelicidade era apenas uma. Não saberíamos mais nos contentar com as cervejas que não tivessem um preparo artesanal.

Foi no cair do dia que uma ideia se alastrou entre nós feito fogo em canavial. Um dos Jipius deveria ficar encarregado de encontrar a fábrica da Prussia e descobrir os ingredientes daquela cerveja para tentarmos fabricá-la em nosso Reino. Como eu conhecia parte do caminho e já havia cruzado terras distantes durante um rigoroso inverno, todos concordaram que eu era o mais preparado para a missão.

No dia seguinte, ao raiar do primeiro fio de sol, preparei a minha trouxa e caí na estrada. A viagem demorou dois dias e uma noite. Andei a pé, de trem, peguei carona no rabo de um burro e andei a pé novamente. Na chegada do Reino, o caminho era sinuoso, forrado de terra batida e cercado por árvores tão altas que pareciam ter nascido muito antes de qualquer Jipiu. O barulho do riacho vinha de longe e era o som mais bonito do lugar. Apesar dos meus olhos estarem encantados com tudo que viam, o cansaço chegou sorrateiro e acabei cochilando encostado do lado de dentro do
portão do Reino. Acordei sobressaltado, em lugar diferente do pouso. Estava aconchegado dentro de uma gaiola, em um colchão mais macio do que cama de capim. Do lado de fora da gaiola, um senhor gorducho me olhava com uma mistura de espanto e curiosidade. Mal sabia que começava ali uma grande jornada. E o que aconteceu depois disso já é história para uma próxima vez…

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Salões do Rei!

Como já é sabido por vocês, no capítulo anterior, ganhei a missão de tentar descobrir a fórmula da cerveja Prussia. Depois de uma longa viagem, acabei caindo no sono no portão do Reino deles. Acordei em lugar diferente de onde havia feito pouso. Era uma sala com paredes de tijolos e um grande farol saindo pela janela. Na mesa de madeira, todos os tipos de guloseimas e pães. As cadeiras felpudas e vermelhas davam vontade de sentar e não levantar tão cedo. Por trás das grades da gaiola onde fui colocado, o ei da Prussia me olhava.

– Desculpe se te causo alguma inconveniência, pequeno ser que nunca avistei. Um dos prussianos te trouxe até mim dentro desta gaiola apenas porque te encontrou em sono profundo. Qual é a sua graça e o que faz em nossas terras?

– perguntou o Rei Frederico enquanto abria a fechadura.

– Inconveniência nenhuma, Vossa Excelência. Esse colchão de penas de ganso e essas cobertas de veludo me permitiram o melhor dos sonos. – disse, fazendo uma saudação e agradecendo o Rei

– Pode me chamar de Fritz. Pertenço a um povo pequeno e de orelhas pontudas, somos primos dos gnomos. Estou aqui, porque experimentamos a cerveja Pilsen de vocês e ficamos encantados com o
sabor maltado dela, a facilidade de bebê-la, e me corrija se estiver errado, mas também notamos uma leve presença de cereais. Vim com a missão de conseguir a fórmula.

– Gosto de quem não tem papas na língua, Fritz. Infelizmente, a fórmula não posso te dar. Mas como não é do meu feitio desagradar quem gosta de uma boacerveja, arrisco uma proposta. Posso oferecer a nossa cerveja de graça para você e para o seu povo enquanto a lua cheia permanecer no céu. Para isso, só será preciso que você consiga a aprovação dos quatro Duques deste Reino.

– Faço gosto da proposta, Vossa Excelência. Mas não posso deixar de perguntar: por que ir atrás dos Duques? Não é você quem dá a palavra final?

– Acontece, Fritz, que aqui somos como uma família. Decidimos tudo juntos. Se você quer as cervejas sem tirar tostão do bolso, vai precisar conquistar a simpatia de cada um dos Duques da Prussia.

Aceitei o combinado e ganhei em troca um mapa com a direção dos quatro territórios onde precisaria chegar. Antes de partir em busca do primeiro Duque, fui convidado pelo Rei para saborear uma taça da Red Ale. Fiquei intrigado ao descobrir que existia um outro estilo além da Pilsen, mas preferi ficar calado e dar uma de entendido. Em breve, você vai descobrir que isso também aconteceu nos outros territórios.

O Rei me confessou que aquela era a sua cerveja Prussia preferida, porque tinha um equilíbrio incrível entre malte, lúpulo e aroma. Além disso, ele achava fantástico uma cerveja com um percentual de álcool tão baixo como aquela, conseguir oferecer um sabor e aroma tão diferenciados.
Saí dos Salões do Rei animado com o desafio de ter que conseguir a aprovação dos Duques da Prussia, e pensando que família não é quem tem o mesmo sangue que a gente, é com quem a gente dividi tristeza, alegria e decisão. O Reino da Prussia já estava me surpreendendo e eu ainda nem imaginava as aventuras que me aguardavam. Mas o que aconteceu depois disso já é história para uma próxima vez…

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Floresta Oculta

Dias atrás, o Rei da Prussia propôs abastecer o meu povo com cerveja desde que eu conseguisse a aprovação dos Duques do Reino. O sol apontava o final do dia quando cheguei na Floresta Oculta. Havia, escondido entre as árvores, um bunker, feito de concreto, e uma mata verde tomava conta das redondezas. Só depois é que fui descobrir que naquele bunker os prussianos guardavam todos os tipos de equipamentos – desde equipamentos para produzir cerveja até espadas, escudos e alimento, para caso os dias sombrios voltassem. Quem me recebeu foi uma senhora menor do que todas as pessoas grandes que eu já tinha avistado. Apesar do tamanho, seus olhos eram firmes e ela passava a impressão de já ter liderado e vencido muitas batalhas. Me adiantei:

– Prazer! Me chamo Fritz e faço visita em nome do Rei – disse tirando o gorro da cabeça e colocando-o sobre o peito – ele disse que caso a senhora e os outros Duques aprovem a ideia, eu poderia levar um bocado de cerveja para o meu Reino. Se eu ganhar o seu sim, Duquesa, pode ter certeza que você sempre encontrará refúgio em terra de Jipiu.

– Ora, mas é claro que você tem a minha aprovação. Sou Frida e comigo não tem tempo ruim! Mas também entendo que o correto é um ajudar o outro. Por isso, você se importaria de buscar um passarinho cor de ouro para presentear a Tia Frida?

Combinado feito, parti em busca do tal passarinho. Avistei-o debaixo da sombra de uma jabuticabeira, brilhando mais do que estrela cadente. Diferente do que pensava, não precisei fazer nenhuma estripulia. O próprio passarinho, percebendo a minha presença, pousou no meu ombro e fomos embora assoviando. Mas depois de percorrer metade do caminho de volta, um aperto surgiu no meu coração. Será que Frida teria coragem de aprisionar uma alma tão livre quanto aquele passarinho? Com pedaço de arrependimento, parei por um segundo de responder aos assovios da criatura. E o bichinho, percebendo a minha insegurança, tomou liberdade de bater asa e ir embora.
Logo em seguida, encontrei Tia Frida de mãos vazias e ela não demorou para perguntar:

– O que aconteceu Fritz? Não conseguiu achar o passarinho?

– Achar até achei. Mas, eu com coração livre, tive medo de você cismar de prender o bichinho. A caminhada ficou sem música, e ele bateu asa pra longe…

– Pois saiba que a missão foi mais do que concluída, Fritz. Para te dar a minha aprovação, precisava averiguar as suas intenções. Por aqui, tratamos com carinho até a sombra de um sujeito. Agora, faça o favor de entrar e se aconchegar que vou lhe oferecer uma cerveja.

Sentamos em uma mesa de madeira envelhecida com gaveteiros e porta copos, típica de uma taberna. Haviam vários pergaminhos espalhados pela mesa, desenhados com estratégias e rotas de entregas das cervejas. Tia Frida dividiu comigo uma Weiss e me contou que esse termo, em alemão, significa branco e faz referência ao uso do trigo na bebida. Me mostrou o aroma desta cerveja e eu pude comprovar que existia ali uma mistura de cravo e banana, que me deixou encantado. Além disso, Tia Frida disse que poderia apostar que se um alemão tomasse a Weiss da Prussia, ele pensaria que ela foi desenvolvida na Alemanha. Isso porque, na Weiss, eles seguem todos os padrões e
ritos alemãs para se fazer uma cerveja de trigo tradicional.

Parti quando um telefone pendurado na parede tocou e Tia Frida teve que voltar ao trabalho. Fui levando um biscoito de amêndoas que ela havia feito para mim e pensando que amizade é a gente tratar bem e oferecer liberdade para quem se dispõe a cantar do nosso lado. Segui caminho em direção ao próximo território, e o que aconteceu por lá é história para uma próxima vez…

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Planícies de Klaus

A estrada para o meu próximo destino era de terra muito pisada, com coloração chegada ao vermelho. Não havia grãos maiores e o chão parecia alisado por patas de cavalo. Depois de caminhar durante um dia inteiro, cheguei em um pomar que servia de pouso aos beija-flores e bem-te-vis. Com tarefa de descanso, recostei debaixo da sombra de uma árvore e fiquei observando os bichinhos quase se chocarem em voos aparentemente sem rumo. Foi quando estava pensando em continuar o meu caminho, que avistei de rabo de olho um cavaleiro vindo em minha direção. O cavalo tinha uma longa crina escura e o moço sobre ele segurava uma bandeira com um águia bordada.

Pararam cerca de dez pés de mim:

– Ora, mas o que um ser tão pequeno como você faz em nossas terras? Precisa de uma carona? – Indagou o cavaleiro se apresentando como Klaus.

– Prazer, Duque Klaus. Na verdade, o que procuro é a sua aprovação para que eu leve algumas cervejas para o meu Reino. Estou aqui em nome do Rei. – Disse depois de me apresentar.

– Acontece, Fritz, que como prova do meu consentimento, você precisaria de um documento que agora não se encontra comigo. Mas podemos fazer o seguinte: vou até o pomar pegar algumas frutas, enquanto isso, você se ajeita no cavalo que partiremos em breve para pegar essa papelada na minha casa.

Tentei explicar que não tinha altura para aquele cavalo e que o máximo que já havia feito na minha existência era pegar carona em rabo de burro, mas o Duque saiu sem me dar ouvidos, cantarolando.

Quando ele retornou, eu estava com um galo no meio da testa, a minha touca já não estava na cabeça e apesar de ter montado no cavalo, estava ao avesso, virado para o outro lado da estrada.

– Desculpe a falta de jeito, Duque Klaus. Infelizmente, não consegui cumprir a tarefa da forma que era preciso… – disse desanimado.

– Na verdade, pequeno Fritz, imaginei que quando chegasse, você ainda estaria debaixo da sombra, esperando para que eu te colocasse no Tom. Não consigo pensar o que um ser tão pequeno precisou de fazer para completar essa missão! Sabe, Fritz? O que mais admiro na vida são as pessoas que não temem dar o primeiro passo. Para mim, coragem é algo entre desejar e ter. E se eu ainda estava duvidoso de te dar a minha aprovação, saiba que agora ela é garantida. No que depender de mim, você levará a nossa cerveja para o seu Reino.

E foi assim que eu e Klaus pegamos estrada, ele observando a paisagem que chegava e eu observando a paisagem que partia, um de costas para o outro. Klaus me contou que a sua cerveja preferida da Prussia era a Pale Ale, uma cerveja de amargor médio, cor cobreada e notas de caramelo, pão e cereal. Me ensinou que ela era uma cerveja com uma drinkability impressionante para aquele estilo e que, sobretudo no frio, é muito fácil bebê-la, mesmo tendo um teor alcóolico imponente.

Klaus também dividiu comigo uma das harmonizações que os prussianos haviam criado para a Pale Ale deles. Eu deveria começar com um tal de Tutu de Feijão. Klaus me explicou que o sabor adocicado da massa de feijão, contrastado com os temperos usados, iriam combinar perfeitamente com o sabor doce e amargo da Pale Ale. Para terminar, era só comer um doce de cidra ralada, ideal para as notas adocicadas da Pale Ale da Prussia. Quando chegou o momento de ir para o próximo desafio, eu estava com água na boca. Mas tentei manter o foco. Afinal, se um homem daquele
tamanho tinha me achado valente, eu não deveria ser pouca coisa. Mas o que aconteceu no dia seguinte já é história para uma próxima vez…

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Vale dos Ligeirinhos!

O meu próximo destino era o lugar mais colorido do Reino da Prussia: um vale com um arco íris que raramente deixa o céu, flores violetas que reclamam se são pisadas e vários daqueles pássaros chamados ligeirinhos, minúsculos e brilhantes, fazendo jogos aéreos que impossibilitam a sua contagem. Nesse território, vivem os prussianos que têm alma de artista. Eles desenham como se tivessem dedos de fada e preparam todas as cartas do Reino, além dos rótulos da cerveja e os materiais que contam quem são os prussianos. Fui recebido por uma moça de cabelos ruivos de
verdade, vermelhos como o fogo. Seus olhos eram escuros e tão doces que transmitiam a segurança de quem conhece muitas coisas. Alguns de seus cachos estavam escondidos por uma bota, que fazia as vezes de chapéu e mantinha-se equilibrada na cabeça dela como se já estivesse ali há muitos anos. Me aproximei, encantado:

– Boa tarde, Duquesa. Me agrada essa tarefa de mudar a função dos objetos. E se me permite, também gostaria de fazer da minha bota chapéu. – disse enquanto abaixava para desamarrar os meus cadarços.

– Seja bem-vindo, pequeno Fritz. Já escutei falar das suas andanças pelo nosso Reino. Saiba que o melhor de colocar bota em cabeça é que serve para os dias de sol e de chuva. Quando faz sol, ganho um palmo de sombra pra frente. Em época de chuva, coloco a bota de cabeça para baixo, guardando cada gota de água que chega com a intenção de me molhar.

– Fico feliz em ver pensamento meu em você, Duquesa. No meu Reino, costumam dizer que eu tenho cabeça de pinéu, só porque não gosto do comum. Outro dia, inventei um encolhedor de rios usando uma garrafa de vidro. No começo, acharam estranho, mas depois todos estavam adotando a minha invenção.

– Pois saiba Fritz que também tenho essa fama por aqui. E me alegra conhecer alguém com quem eu possa dividir pensamento e bota na cabeça. Depois dessa prosa, você já ganhou a minha aprovação e simpatia. Entregue ao Rei este dente de leão e ele saberá que quero que você leve um pouco da nossa cerveja para o seu Reino.

Fui embora depois de saborear ao lado da Duquesa Bella uma taça da cerveja Bohemian Pilsner. Ela me contou que gosta de beber a Bohemia em taça de boca estreita para reter os aromas tão marcantes da cerveja. E que aquela era a sua cerveja preferida da Prussia, não só por ter um corpo e amargor médio, mas também porque ela era maltada e lupulada, um equilíbrio difícil de encontrar em cervejas de outros Reinos, já que geralmente elas são um ou outro. Aprendi também que a Bohemian da Prussia conta com três tipos de lúpulos, que trazem uma característica floral, um pouco
picante e bastante cítrica para a cerveja, algo que não é comum na família das lagers.

Bella contou com o orgulho sobre aquela inovação e se despediu de mim com um aceno. Enquanto fazia isso, notei que havia um ligeirinho pousado no ombro dela. Quando deixei Bella, estava com um sorriso estampado no rosto e uma bota na cabeça, carregando apenas a certeza de que pensar diferente, e além do que já existe, é a única forma de sonhar. E o que aconteceu no meu próximo destino já é história para uma próxima vez…

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Topo do Lúpulo!

Faltava apenas um território para completar a minha missão e levar um bocado de Cerveja Prussia para o meu Reino. Para chegar até o Topo do Lúpulo, subi terras íngremes e senti tanto frio que a ponta dos meus dedos começou a ficar dormente.

Chegando lá, fui recebido por um senhor de nome Antonin:

– Seja bem-vindo, pequeno Fritz. O Rei me falou sobre você. Vamos entrando que irei te mostrar um pouco da fábrica.

Antonin tinha cabelos brancos e desarrumados e segurava uma varinha que só mais tarde fui descobrir a função. Me mostrou as etapas de fabricação da cerveja IPA, que é uma cerveja um pouco mais seca, de cor acobreada e com notas de caramelo e de pão, além de um aroma surpreendente. Apesar de ter um teor alcoólico maior do que todas as outras do Reino da Prussia, Antonin me contou que ela era uma cerveja muito fácil e gostosa de se beber, e que já foi comparada com IPAS de padrão internacional.

Com o mestre Antonin, aprendi que a cor da cerveja dá a dimensão do corpo dela, que existe uma temperatura ideal para a preparação e que os ingredientes precisam ser colocados em quantidades precisas.

Confesso que por ter as mãos aflitas e sonho maior do que eu, quis dar uma de mestre cervejeiro e acabei acrescentando alguns ingredientes na cerveja que estava sendo preparada. Enquanto Antonin estava distraído, coloquei nas tinas, onde a cerveja estava sendo preparada, uma flor de laranjeira, uma pitada de cascalho e um pedaço de queijo que estava guardado no meu gorro. Quando a cerveja ficou pronta, fui ansioso para o primeiro gole, com a suspeita de que tinha inventado uma fórmula ainda mais saborosa. O primeiro a discordar foi Antonin:

– O que é isso meu filho? O que você andou fazendo nesta cerveja? – indagou Antonin cuspindo o gole que tinha colocado na boca.

Acabei admitindo a empreitada e Antonin bateu a sua varinha em minha cabeça. Disse que as receitas que eles usavam eram sagradas, e que não sabia onde eu estava com a cabeça. Se ganhei a aprovação de Antonin, imagino que foi porque ele teve medo que eu decidisse fazer morada no Reino da Prussia e começasse a desenvolver algumas receitas malucas.

Antonin despediu de mim com um abraço e quando eu já estava indo embora, gritou: “E tem mais uma coisa! Se for se aventurar a fazer cerveja no seu Reino, não esqueça de me convidar!” – e recebi outra “varinhada” no topo da cabeça. Saí de lá dolorido e sabendo que iria ter que enfrentar o frio do caminho novamente. Ainda assim, estava radiante. Tinha conseguido a aprovação de todos os Duques e agora só precisava ir até o Rei para buscar as cervejas prometidas. Quando cheguei no castelo, o Rei Frederico me esperava na porta, ao lado de uma carroça com vários galões de cerveja.

– Isso significa que eu não vou nem precisar fazer o caminho de volta a pé? – Indaguei entusiasmo olhando para o cavalo e para as cervejas. E antes que ele pudesse responder, continuei:

– Pois saiba, vossa Excelência, que nesta aventura descobri que essa história de fórmula é complicada demais para um ser tão atrapalhado como eu. E mesmo que eu conseguisse seguir cada passo da receita, entendi que mais importante do que a fórmula é a forma. A cerveja da Prussia é uma mistura do Antonin, da Tia Frida, da Bella, do Klaus, de você e de todos os outros prussianos. É uma combinação de tudo que aprendi por aqui: simpatia, coragem, a importância de pensar diferente e de fazer aquilo que amamos com dedicação.

Imaginei que o Rei pudesse ter outros compromissos e não quis estender a minha prosa. Mas a verdade é que ainda não tinha falado sobre tudo que aprendi no Reino da Prussia. Foi com os prussianos que descobri a expressão “régua alta” e entendi que a qualidade é mais importante do que a quantidade. Para conseguir qualidade? É preciso de um grupo unido como uma família, pensando estratégias, estudando processos e percorrendo longos caminhos em busca de um sonho. Isso eles tinham. E caminhavam juntos, quase de mãos dadas.

Foi com esse pedaço de pensamento que acabou a minha missão no Reino da Prussia. Parti em uma carroça cheia de cervejas, com um sorriso que não cabia em meu rosto tão pequeno de Jipiu. É verdade, não tinha abandonado a curiosidade de descobrir os ingredientes daquelas cervejas, mas levava comigo a certeza de que a amizade é mais importante do que a receita. A aventura tinha acabado, mas já nascia em mim uma vontade de voltar ao Reino da Prussia.